Cem Anos

sexta-feira, novembro 07, 2003

Tristeza

O rapaz estava deitado no chão
Palha na boca
Triste
Sem alma
Sou eu que o sinto
Olhava a lua
As estrelas
Contava os segundos
Para nada
Estava porque não podia não estar

Olhou-me e disse-me
Nada
Que tenho para dizer?
Suspirou e fez um gesto
De resignação
Quando a chuva começou
Não se mexeu
E respirou-a nos poros
Podia abrigar-se
De quê?

Sentei-me a seu lado
Olhei a lua
Que já se tinha ausentado
E ele começou a murmurar
Cantigas de antanho
Falavam da noite
Da sorte
Da melodia da chuva
Falavam
Falavam de nós

Tempos
Outros tempos
Em que corríamos
Sentíamos
Vivíamos
A cara molhada pela chuva
Olhou-me
Podia acabar com tudo
Desistir de ser eu
Para quê?

Um de nós pediu desculpa
Ao outro de nós
Mas as palavras foram sufocadas
Pelo trovão
Que cortou a paz
Atingido por um relâmpago
Levantou-se de repente
Correu pela escuridão
Na ânsia de sentir
A dor

Afastou-se tentando apanhar as estrelas
Subir à lua
Apanhar a chuva no peito
Mas sabia-se tarde
Não precisou de contar os segundos
Fiquei sozinho à chuva
Porque parei de correr?
Ele havia de voltar
E eu desejei que ele não voltasse
Para quê?

1 Comentários:

  • Nope, havia dois que eu pensei que fosses comentar: Senti-me feliz, momentaneamente feliz e Pelos teus olhos.
    Qual é o problema das cantigas de antanho? :)

    By Blogger JLM, at 2:28 da manhã  

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