Cem Anos

terça-feira, fevereiro 21, 2006

É isto para sempre

Na lápide fria varrida pela chuva
Escrevi com o dedo
Escrevi com a cera:
É isto para sempre.
Enterrei-te no meu coração
Pois nada lá pode existir com vida
Pois nada lá pode existir
Lágrima.
O cipreste como minha testemunha
Disse com a minha alma
Disse com a sua seiva
Aqui jaz o amor
O ódio
A loucura
A ternura
Aqui jaz o presente
Para que o futuro seja da saudade do passado.
Puxei pela manga de um anjo que velava
E segredei-lhe ao ouvido
E segredei-lhe aos caracóis
O azul do céu pode ser teu
Mas o azul do mar será sempre nosso
E até as tuas nuvens se lhe rendem
Alimentando-o.
Levantei os olhos para o crucifixo
Que ornamentava o nosso derradeiro leito
E pensei
E sonhei
O que é uma vez divino
É-o sempre
E só é realmente divino o amor
Meu amor.
Atirei um punhado de terra para cima de mim
E voltei-te as costas
E voltei a ti
Para me abraçar ao teu perfume
E dançar o tango da solidão
Ao som das minhas lágrimas
Saudades nossas.
Enquanto o teu espectro se alcandorava às alturas
Lembrei-me que também nós fomos construtores do divino
Cítara de anjos
Raios de lua
Orvalho da manhã
Orvalho da esperança.

Olhei-te
Uma lágrima molhou-me a testa
Uma lágrima fugiu-me.
Chove.
É isto para sempre.

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