Cem Anos

terça-feira, fevereiro 14, 2006

Quero tanto

Que sou eu? Quem sou eu? Que faço? Porque faço?
Só, tão só
Mau, tão mau...
Porquê? Podia ser melhor? Podia ser feliz?
Podia, podia e não consigo...
Tento ou se calhar já nem tento
Que importa?
Mas quero, quero muito
Ou às vezes quero muito
E não consigo, e não consigo...
Ser melhor, ser maior, ser brilhante
Ser, quero ser, não quero diluir-me em banalidades
Infidelidades, compromissos, cedências nojentas
Porcas, nojentas, porcas...
Quero ter coragem, quero querer
Não sei o que quero mas quero
Às vezes quero, outras vezes já nem sei
Mas quero, quero muito
Quero saber porquê?
O que me falta?
Falta-me um pedacinho tão grande
Falta-me eu, um bocadinho enorme
Falta-me uma asa, uma cauda, uma alma.
Porquê?
Julgo-me importante mas nada
Sou nada, isso é o que eu sou
Importante para mim e rio-me
Rio-me porque julgo que sofro
Estúpido egocêntrico!
Sofro porque me rio, de mim
E às vezes choro, imploro
Tempos melhores, melhores sortes
Outros amores
Outros amores
Novas dores,
Inevitável?

Porque me conheço?
Porque me sei?
Sei-me oco, sei-me ridículo.
Se ao menos não soubesse
Se ao menos fosse avestruz
Fosse galinha, fosse camaleão
Fosse doutro tempo e doutro lugar
Fosse de onde não se sabe o que se é
Fosse eu outro
Então talvez fosse eu.
Que estupidez, que desperdício
Que suplício
Dor-amor
Não faz sentido,
Mas para mim faz
Só para mim faz
Que conheço eu, que sei eu?
Para além das minhas fronteiras
Sou toupeira, sou morcego
Não sou.
Continuar porque sim?
E tenho escolha, não tenho escolha
Vivo porque que mais se há-de fazer?
E gosto de viver, gosto do mar
Gosto do sol, gosto de alguns olhos
De algumas melodias
Gosto de algumas almas.
Pena estar sufocado, pena não me lembrar
Não me lembrar do sal de um beijo
Pena não me lembrar do sol de um sorriso
Pena estar asfixiado, pena custar-me respirar
Mas que pena!
Tenho tanta pena minha que rebento em gargalhadas
Que pobrezinho sou, que coitadinho!
Apetece-me bater-me sempre que cedo
Sempre que desisto.
Desfazer-me em pancada para não me desfazer em sal
Destroçar-me
Destroçar-me, agora por fora
Desconstruir-me, agora por fora
Desfazer-me, agora e para sempre
Por fora, por dentro.

Sonho com outro eu mas impossível
Dizem-me impossível
Sei-me outro impossível.
Então, numa noite escura de desespero
Fria
Numa noite fria de desespero
Encontrei-me com uma imagem minha
E quis ser eu
Quis ser eu ali, naquela imagem
Naquela noite
Escura
Quis ser
Por isso sou
Estou
Pudesse eu não ser
Mas que fazer?
Queria tanto ter outra oportunidade
Às vezes queria tanto
Voltar atrás
Voar atrás, viver para trás
Para voltar e ser eu
Aquele que eu quero ser e não aquele que eu sou
Para voltar e ser eu
Brilhar, brilhante
Tão completo, com tanto sentido
Sem dor-amor
Comigo
Queria tanto
Às vezes queria tanto