Cem Anos

sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Digamos (II)

Era de manhã. Estava sol.
Reconciliei-me com a vida.

Digamos (I)

Voo. Alto.
Para apenas me cansar e merecer o repouso.

Fragmentos

A morrer, que seja contigo
Nesta linha de uma vida só
Ou nesta vida de via única
Para trás não vou
Se és tu quem me leva pela mão
Se és tu
Se ao menos fosses tu…

Amores aos molhos
Aos sóis, aos olhos
Nesta geada da manhã da vida
Olho-te pela janela
Imagino-te bela, Cinderela
E amo-te com o meu pensamento
Sozinho.

Tempo? O que é o Tempo
Senão uma espera até ti?
O que é a vida, o ar,
A brisa, o sol, o mar,
Senão pedaços de ti, fragmentos de ti
Saudades de ti
Se ao menos me levasses pela mão…

Lutar, lutarei, sempre, sempre,
Até à vitória final, até ti
Meu moinho de vento, meu pensamento
Meu lamento, minha querida, minha amiga.
Tentarei se tentares, caminharei se me deixares
Deixa-me tentar, tenta-me, mas não me deixes
Chorar uma lágrima tua.

E começar tudo de novo, de novo
Para fazer o mesmo, o mesmo
E para amar-te com o diafragma
Que me constrange a respiração querida suave
Querida, leva-me pela mão suave
E beija-me o âmago, o ego, o sonho
O remorso de não ter sido.

Tenho medo de perder-te outra vez
Depois de te ter perdido uma vez
Perder-te agora na eternidade do etéreo
Depois de te ter tido, perdido
No momento do momento que passa.
Um silêncio, um lamento, um suspiro
Olhei… e não eras tu.

Foi amor, dor, suor e ternura e loucura
Riso insano, tristeza doce, querida suave
Suave, levavas-me pela mão que suava
Por mim, que tremia, exaltava
Por ti, que eras vale verde de decepção
Amargura, ressentimento ou perda minhas
Para mim, tu és tudo, tu.

Algures à frente, adiante, se houver
Estará uma terra de que ouvi falar
Numa história de amor que me contaste
À frente estará um lampião empunhado por ti
Por ti eu irei lá, por ti eu viajarei
Por terras de loucura, dor ou desprezo
Por onde estou e já não saio.

Um dia, um dia, terei vontade
Mais vontade de te ter, oh amor,
E um dia descobrir-me-ás doce e quente
Suave como uma manhã de geada
Levar-me-ás pela mão pelo teu vale verde
E casinhas caiadas, caladas, casinhas
Onde já não estás, onde nunca estiveste.

O mundo espera por nós, querida
Suave como uma pena soprada por ti
Pelo vento que corre do teu peito
Pela brisa que me refresca a alma, a calma
E o tempo corre para ti como um ponteiro para a hora
E agora como uma longa espera espera por ti
Desde que eu desisti.

Digo-te inesquecível porque ainda me lembro
Do hálito a paixão, do calor da tua mão
Das rosas que cheiravam a espinhos quentes
Um dia cravados no meu eu, gelado
Como uma manhã de geada pode ser gelada
Num vale verde de emoção e razão
Sim, sei que depois de ti, perdi-me a mim.

Quando estávamos juntos mesmo separados
Quando éramos um mesmo quando dois
Pássaros que rasgavam o céu da manhã
E quando só isso importava, nada mais importava
Quando, quando, quando… quando foi?
Quando, porquê, como, onde? Quando, quando, quando?
E eu odeio-te por não mo dizeres.

As palavras incomodam-me, doem-me
Como espinhos quentes retirados do meu eu
Que sou orgulho e pompa, imagem e sedução
Que sou tudo e de quem tu tudo tiraste
Deixando-me nada, agora sou nada, nada importa
Que importa ser resto, detrito de ti, dentro de ti
Quando fora sou peixe em terra.

A noite veio cobrir-me de frio e luar
Encheu-me o peito de brisa fria e respirei
Maresia que não lembrava havia mais de dez lágrimas
Um barco no horizonte embalado pelas ondas
Do meu descontentamento enterrado em ti
Acendeu-me uma luz e desejou-me boa noite
Olhei… e não eras tu.

Um beijo, um beijo e retiro-me, vou-me
Para o quintal da minha imaginação
Viver o que me resta viver, ser o que me resta ser
Um aceno teu pela brisa da manhã
Gelada pela geada madrugadora
E deixar-me-ei levar pela tua mão
Até terras tuas, vales teus, horas tuas.

Estou preso em ti como espinho em rosa
Espero que me saibas aí, contigo
Espero que me sintas aí, sozinho
Espero e não vens, nunca vens, nunca vieste.
Serei eu? Não, sei-o, não me escolheste
Para me levares pela mão até ti
Mas contra o vento e os moinhos investirei.

E no fim, ah, no fim, serei eu, serei eu e mais ninguém
No fim, restarei eu quando todos os outros desistirem
Por sobre os despojos do teu triunfo
Triunfarei sobre todos os outros, sobre ti
Sobre ti triunfarei sobre o teu vale verde
Que pintarei com o azul do meu rio
Que corre, correu, correrá… até ti.