Cem Anos

quinta-feira, setembro 10, 2009

O que falta dizer já não fará qualquer diferença

- Quero o divórcio.
- Como?
- Ouviste-me: quero o divórcio.
- Queres divorciar-te? Mas como? Quer dizer, porquê? Quando? O que se passa? Porque te queres divorciar?
- Acho que a nossa relação já não resulta, já não funcionamos bem como casal. Acho que o devemos assumir e seguirmos independentemente a nossa vida.
- Já não resulta? Mas como não resulta? Já não funcionamos como casal? Que palermices são estas? Que discurso é este? Tu nunca foste de pseudopsiquiatrices, nunca usaste palavreado de revista feminina... O que se passa? Eu não consigo compreender o que poderá estar por detrás disto...
- Obrigado por reduzires as minhas sensações a psicologia de revista feminina. E não está nada por detrás disto, está apenas isto, que aqui te estou a transmitir. Eu não estou feliz, já não estou feliz, no nosso casamento.
- Já não estás feliz? Mas como, assim, de um momento para o outro? Quando é que deixaste de ser feliz? Ontem eras feliz e hoje já não te sentes feliz casada comigo? Ou já te sentes infeliz há muito tempo? Eu não me apercebi de nada, eu julguei-te feliz... Eu sou feliz contigo...
- Talvez essa seja uma parte do problema: tu julgaste-me feliz!
- E porque não? Eu era feliz, tu eras feliz, ou, pelo menos, foste feliz, agora dizes-me que já não és feliz, não sei como, não sei porquê... Fui eu que fiz alguma coisa? Disse alguma coisa? Eu mudei nalguma coisa? Que raio de coisa fiz eu para tu deixares de ser feliz, muito queria eu saber...
- Tu não mudaste, és o mesmo, mas talvez eu tenha mudado.
- Com certeza mudaste!
- Poupa-me à tua agressividade, por favor.
- Desculpa-me, mas eu estou perturbado, sinto-me completamente descoroçoado, o céu caiu-me sobre a cabeça!
- E, já agora, aos lugares comuns...
- Oh, perdoa-me se não reajo com brilhantes e esmagadoras figuras de estilo e com ribombante retórica à notícia de que a minha mulher se quer divorciar de mim!
- Tu obviamente não estás a reagir de uma forma madura, talvez seja melhor ficarmos por aqui...
- Eu quero perceber o porquê, se ao menos entendesse o que te levou a esta decisão... espera! Tu tens outro, é isso? Apaixonaste-te por outra pessoa?... Porque me olhas com desprezo? De que te ris, trocista? Acertei, não foi, vais viver com outro?
- Hesitei se deveria rebaixar-me, respondendo-te, e beliscar o teu orgulho de macho, mas vou satisfazer a tua curiosidade: não, não tenho outro, não estou apaixonada por outra pessoa, não vou viver com ninguém. Percebo que para ti seria até mais confortável se eu quisesse o divórcio porque estivesse apaixonada por outro homem, mas lamento desiludir-te: não há aqui quaisquer terceiras pessoas envolvidas, é uma decisão minha e tem apenas a ver com a forma como eu vejo actualmente a nossa relação.
- Agradeço-te que me dispenses da tua psicanálise. Nem sei como ousas falar no meu conforto, nesta situação. A minha mulher, do nada, diz-me que se quer divorciar de mim. E eu tenho de encarar isto com desportivismo e sobranceria, porventura, com um sorriso nos lábios. Tenho de ser adulto, desejar-lhe boa sorte e ir-me embora contente e satisfeito. Tenho de me abster de perceber o que faz a minha mulher desistir de um casamento estável, feliz – assim o vejo – e eterno. Sim, eterno, não foi isso que prometemos um ao outro? Não o sentiste, quando mo disseste? Não foste sincera? Não acreditavas realmente que o nosso casamento seria eterno quando nos beijávamos ao pôr-do-sol e partilhávamos framboesas junto ao mar? Prometeste-me a eternidade... a eternidade do teu amor, do nosso amor!
- Não sejas piegas, peço-te. É claro que senti tudo isso quando to disse, é claro que vivi intensamente todos esses momentos, mas um casamento não é uma masmorra, não temos que nos sentir aprisionados por palavras ou memórias passadas. As pessoas mudam e eu, provavelmente, mudei. A eternidade parece-me agora muito tempo e eu já não ta posso oferecer. Preciso de encontrar o meu caminho e lamento pensar que esse caminho já não é o teu caminho, o nosso caminho... Se tivéssemos continuado a percorrê-lo juntos, estou certa de que iríamos ter aonde queríamos, aonde desejávamos, aonde planeámos, mas agora já não me parece que seja aí que eu queira ir ter. Quero experimentar outro caminho, sem planos, por minha conta e risco, e sentir-me livre.
- Livre? Mas eu, por acaso, alguma vez te prendi? Alguma vez cerceei a tua liberdade? Não fizeste sempre o que querias? Não tiveste sempre os teus amigos, os teus programas... eu alguma vez interferi? Que liberdade pretendes? Eu posso oferecer-te toda a liberdade!
- Não me podes oferecer a liberdade de ser sozinha...
- Sozinha? Mas tu queres-me deixar para viveres na solidão? Trocas-me pelo isolamento, pela escuridão? Alguma vez na vida estiveste realmente sozinha? Ou só a queres porque nunca a tiveste? Garanto-te que a solidão não é algo que se deseje...
- Registo o teu conselho paternalista, mas eu não pretendo viver na solidão. Apenas não quero ter a minha vida coarctada pelo casamento, nesta altura, não é o que me apetece.
- O que te apetece? Mas tu pões em causa um casamento feliz – insisto!- porque não é o que de momento te apetece? Tens a certeza de que ponderaste bem este passo? Não achas que o nosso casamento - não achas que eu mereceria outra gravidade? Que ligeireza eu noto nas tuas palavras...
- Se elas transmitem ligeireza, não deviam, porque esta foi uma decisão muito ponderada e também muito sofrida. Não foi tomada de ânimo leve, posso assegurar-te. Para mim, poderia até ser mais fácil continuar, deixar-me seguir embalada pela vida, mas, infelizmente, isso já não me é possível, impõe-se-me esta decisão. Acredita que lamento por ti, lamento por nós, mas para haver nós eu teria de estar no nosso casamento de corpo e alma e eu descobri-me eu com uma violência que arrasa tudo o resto. Nós... nós atavam-me e eu tive de me libertar...
- Lamentas, mas vais-te embora e deixas-me. E eu?
- Tu?
- Sim, eu. Eu, que te amo. Que te amo ainda, ainda e sempre. Eu, que tenho um orgulho desmesurado em ti, no nosso casamento, na nossa realização. Eu, cujo dia mais feliz da minha vida foi quando desci, ufano, pelo corredor da igreja de braço dado contigo, ou talvez tenha sido aquele outro em que eu te perguntei e tu disseste sim, sorrindo. Eu... eu que me sinto agora a desmembrar com esta notícia, que sinto as minhas entranhas a revolverem-se em agonia, a desfazerem-se em sangue, a dilacerarem-se com fúria. Eu... eu... que sinto já que te perdi, temo que para sempre, que te perdi, a ti... que és a minha vida, foi para ti que eu vivi desde sempre e foi contigo que eu vivi durante todos estes anos... e agora perdi-te, não sei como, não sei porquê e não sei o que poderia ter feito de diferente e sinto que provavelmente não haveria nada de diferente que eu pudesse ter feito e, mesmo assim, ter ficado contigo para sempre, como tínhamos prometido um ao outro... e não consigo compreender como é que isso, que eu disse do meu âmago e que eu sei que tu também disseste, isso – vivermos juntos para sempre! –, isso, que é simplesmente tudo para mim, tem-no sido desde que o dissemos, se calhar, sempre o fora, isso, que é tudo, que para ti, sei-o, já foi tudo, agora é nada. Nada! E isso dói-me mais do que tudo.
- Por favor, controla-te um pouco, não tornes isto ainda mais difícil.
- E a eternidade, a eternidade do nosso amor, do nosso casamento, a nossa eternidade... nada! E abre-se-me agora diante dos olhos uma outra eternidade, ainda mais longa, mas também mais escura, uma eternidade feita de soluços, de diafragma em convulsão, de pulmões atrofiados, uma eternidade longa, longa, longa, sem ti... e isso será tudo!
- Nunca pensei que reagisses assim, pensei que poderíamos discutir calma e elevadamente esta situação desagradável como dois adultos responsáveis que somos, mas vejo que insistes em reagir emocionalmente e que te recusas a adoptar uma atitude racional perante a minha decisão. Julgo que assim só tornas as coisas mais difíceis para ambos.
- Desculpa-me se não te facilito as coisas, mas, para mim, esse será o meu derradeiro e frívolo troféu. Antes assim. Não te vou deixar sair airosamente disto, como quem decide deitar fora uma lâmpada fundida ou decide deixar de usar uma camisola velha. Para mim, isto seria sempre difícil. Difícil? Que digo eu, isto é meramente insuportável! É o fim!... Porque haveria de ser fácil para ti? Porque haveria eu de me preocupar contigo ou com o que possas sentir agora? Acaso consideraste tu as minhas emoções, os meus sentimentos, aquando da tua fantástica decisão?
- Desconhecia-te essa vertente vingativa e descontrolada. Não queiras, rapidamente, tornar-me as coisas fáceis, demasiado fáceis.
- Ó humilhação, suprema humilhação! A que profundezas poderá um homem rebaixar-se? Homem já não sou, sou um animal, uma víscera que se decompõe ante os teus olhos, para teu deleite... Que espectáculo, meu Deus, que degradação!... E ainda ter que ouvir as tuas ameaças condescendentes... Toma: usa-me! Abusa-me! Sou um farrapo nas tuas mãos, faz de mim o que quiseres...
- Pára! Mantém a tua dignidade, o que resta dela, pelo menos.
- De que me serve a dignidade? De que me serve o amor-próprio? Amor, tenho-o, mas só por ti. Agora vou ter de o matar... Cresceu-me na pele, no cabelo, nos órgãos interiores, nos ossos, em todo o lado. Disseminou-se-me em mim. E agora vou ter de o matar. Mas como poderei eu matá-lo sem me matar a mim?
- Creio que exageras no melodrama. E espero que não estejas a fazer uma daquelas ridículas ameaças de suicídio que alguns homens fazem quando sentem a sua segurança desmoronar-se-lhes...
- Segurança? Não apouques a minha mais bela realização, o meu maior motivo de orgulho. A segurança era – porque não? – apenas uma pequena componente do nosso casamento. Não me parece demeritório...
- A mim não me parece meritório. A segurança, nesta fase da minha vida, sufoca-me, prende-me, corta-me as asas. A segurança entedia-me e contribui para a monotonia que eu sentia no nosso casamento.
- Ahh... Já falas dele no passado... Senti um punhal no estômago... Mas um casamento tem de ser monótono! Faz parte da sua constituição! Apenas os casamentos breves poderão eludir-se a essa fatalidade. Mas os casamentos a sério, os verdadeiros casamentos, eternos, como o nosso, terão forçosamente de ser monótonos. Não poderá haver pores-do-sol todos os dias, nem tampouco corridas na areia ou mergulhos no mar, não poderá haver jantares românticos quotidianamente, nem prendas, surpresas, inovações, factos inesperados ou prazeres imprevistos. Terão de existir inevitavelmente momentos de tédio, de fastio, de enfado ou até de aborrecimento, apenas aliviados pela circunstância de os partilharmos com quem mais amamos. A eternidade é longa e uma eternidade de plena felicidade seria... entediante. Inverosímil também. O casamento pode ser um carrossel, até uma montanha-russa, nalguns dias, mas noutros é simplesmente um pequeno barco parado num enorme lago plácido de águas paradas.
- Compreendo que faças a apologia do casamento, dadas as circunstâncias; compreendo também que estejas magoado e sentido comigo. Acredita que lamento e que preferia que as coisas se tivessem passado de modo diferente. Passaram-se, contudo, assim e eu tenho de ser coerente comigo em cada momento, ainda que isso queira dizer que estou a ser incoerente comigo em momentos diferentes. Quando casei contigo, era para todo o sempre. Acreditava-o e desejava-o. Não te menti, não te enganei e também não me enganei a mim própria. No entanto, agora já não sinto da mesma forma. Sinto que nós já não fazemos sentido, pelo menos, já não me sinto confortável imaginando-nos, desculpa-me a vulgaridade, a envelhecer juntos. Eu não quero envelhecer contigo.
- Essa afirmação é de uma violência atroz!
- Desculpa-me, mas é mesmo assim: eu não quero envelhecer contigo. Já o quis, acho que já o quis, mas agora já não o quero. Não te sei dizer porquê, não sei o que mudou em mim, em nós, não sei se mudou algo em ti, só sei dizer que olho para o futuro e vejo-me a percorrer um caminho de sol e alegria. E, ao lado, vejo o negrume do nosso caminho... Tenho de sair aqui. Tenho de seguir o meu caminho.
- Mas porquê? Porque não continuas no nosso caminho, ainda que o vejas negro?
- Falas a sério?
- Sim...
- Porque o faria?
- Por nós... por mim.
- Pedir-me-ias?... Então, não falas? Diz-me: pedir-me-ias?
- Sim!... Não...
- Então, em que ficamos? Pedir-me-ias realmente?
- Teria de to pedir?
- A pergunta é: valeria a pena pedires-mo?
- E então? Valeria?
- Só o saberás se mo pedires. Faze-lo?
- Faço... Faço! Anda percorrer o nosso caminho, ainda que o vejas negro e triste, vem calcorrear ainda uma última vez o nosso trilho e eu provar-te-ei que também poderá ser soalheiro e alegre. Vem, vem comigo...
- Nunca acreditei que o pedisses realmente.
- Nunca subestimes um homem apaixonado!
- Eu diria antes desesperado.
- Seja! Que me importa isso agora?... E que dizes então? Que respondes?
- Será realmente possível que o teu desespero te impeça de raciocinar, de ver? Não consegues perceber? Não consegues perceber que o que me pedes é de uma tirania inaudita, avassaladora e... lamento-o... impossível.
- Não consigo acreditar que te queiras divorciar de mim porque sim!
- Eu, infelizmente, consigo acreditar que tu, realmente, não entendes nada...
- Eu sou uma pessoa simples: amo-te e sei que me amas. Não consigo ver qualquer complexidade nisto...
- Talvez porque sejas, deveras, uma pessoa simples. Acredita que há muita complexidade no amor.
- Então não desmentes que ainda me amas?
- Oh, francamente, começo a irritar-me com os teus joguinhos infantis... O amor não está aqui em discussão.
- Como não? Pois se eu te amo e se tu me amas, por que carga de água nos havemos de separar?
- Eu não sei se te amo. Eu... quero-te bem... Mas nada disto importa, o amor não é relevante para o caso.
- Não é relevante? Realmente, não entendo nada...
- Eu, eu sou relevante. E tu, tu também deverias ser relevante. O que te diz o teu eu? Não o ouves, não o escutas? O meu, neste momento, impõe-se-me, domina-me. É algo que me extravasa.
- Que reconfortante! És apenas uma vítima de ti, ou melhor, do teu... eu! Afinal, não tens culpa de nada!
- Culpa? Ah! Ah! Ah! Acredita que não tenho culpa nenhuma. Não me sinto culpada, mas também não vou dizer que sou uma vítima.
- E ris-te?
- Desculpa-me, conceitos como a culpa fazem-me rir: a culpa é uma invenção da moral e eu prefiro reger-me pela minha ética.
- E a tua ética diz-te que deves ouvir o teu eu, mesmo que isso implique destruir o nosso nós? A tua felicidade pessoal está acima do nosso casamento?
- Não acredito! Tu estás-te a ouvir?... Não achas que a felicidade individual estará sempre acima de qualquer convenção social?
- O nosso casamento não é uma mera convenção social. É mais do que isso... é... Somos nós!
- Libertei-me de nós!
- Há nós de que eu não me quero libertar! Nunca!
- Tenho pena de ti.
- A tua ética permite-to?
- Ter pena de ti? A minha ética inflige-mo!
- E no entanto abandonas-me...
- Evidentemente. Não haverias de querer que o não fizesse.
- Claro que quereria! Pois se é tudo o que eu mais quero!
- Não te sentirias bem sabendo que eu continuava apesar do que sinto em relação ao nosso casamento.
- Ah, não me sobrestimes nem te iludas com os meus princípios. De momento, era o que eu mais queria, independentemente do que possas sentir...
- Nem sequer acredito que acredites no que estás a dizer.
- Eu quero-te comigo, a meu lado, para sempre! Nada mais me importa!
- Viverias comigo sabendo que eu era infeliz a teu lado?
- Eu far-te-ia feliz!
- Agora sou eu que te aviso: não te sobrestimes! Neste momento, é-me claro que só serei feliz fora do nosso casamento.
- Neste momento! Dizes sempre neste momento! Como podes tomar uma decisão desta envergadura se nem estás certa de poderes mudar de ideias no futuro?
- O meu neste momento é dito em oposição ao passado e não ao futuro. Digo neste momento porque tenho consciência de que no passado senti de modo diferente, mas sei, neste momento, que esse tempo terminou. E não voltará.
- Não podes estar tão certa, não podes... O teu amor por mim não se pode diluir em meia dúzia de semanas nem em meia dúzia de meses! Não pode! É demasiado forte, sei-o bem!... Não queres meditar mais um pouco na tua decisão, não queres tirar um tempo para pensar?
- Um tempo? Por favor, já não somos adolescentes... Espero que percebas que decidi termos esta conversa depois de muita ponderação. Necessitei de toda a minha coragem para o conseguir fazer.
- Coragem! Coragem? Que coragem será necessária para virares costas a um casamento feliz? Que coragem será necessária para deixares de rastos alguém que te ama profundamente? Coragem seria continuares; assim, ao que fazes, chama-se fugir. É o caminho mais fácil!
- Percebo perfeitamente que para ti seria sempre mais fácil continuares, não importa o que acontecesse, não importa o que se passasse. Para mim, seria também mais fácil continuar, por outras razões, mas não o conseguiria fazer nunca. Tenho de sair aqui.
- Por achares que o não conseguirias fazer, não o tentas, sequer. Tal como eu digo, escolhes a opção mais fácil: desistir.
- Não é a opção mais fácil: é a única opção! Mas também tu, se decidisses continuar depois desta conversa, estarias a desistir. Noutro sentido, mas também a desistir.
- Assumes que desistes?
- Não me tentes enredar outra vez nos teus jogos de linguagem. Chama-lhe desistir, se te faz feliz. Para mim, é apenas reinvestir. Reinvestir na vida, reinvestir em mim.
- E porque não tentas reinvestir em nós?
- Já não há nós.
- Como o podes decretar, unilateralmente? Eu não tenho nada a dizer sobre isso?
- Infelizmente, já não tens.
- Não há nada que eu possa fazer, nada que eu possa dizer, que te faça reconsiderar a tua decisão?... Por favor... Sê razoável...
- Lamento.
- É a tua posição definitiva?
- Sim.
- Neste momento, odeio-te.
- Pensei que me amavas...
- Divertes-te com isto?
- Não, desculpa-me. Eu sei que foi um grande choque para ti, mas nada poderia fazer para o mitigar.
- Para o mitigar, não; poderias era tê-lo evitado.
- Sabes que não.
- Sim... Começo a perceber que não... Tu dóis-me!
- Eu?
- Sim. Tu. Tu e a eternidade. Tu e o definitivo.
- Percebo... Mas repara que eu não morri...
- É o mesmo... eu morri para ti. Nós morremos. Mas eu não te consigo matar em mim, nem a ti nem ao nosso amor.
- Não sei o que mais possa dizer...
- Não... não há mais nada para dizer.
- Já foi tudo dito.
- Talvez não, mas é como se o tivesse sido porque o que falta dizer já não fará qualquer diferença.
- É triste.
- É triste.