Cem Anos

sábado, novembro 01, 2008

A luz da falésia

Bem aventurada a luz que te complementa o corpo, quiçá a alma. A luz que esqueces por a trazeres sempre na lembrança e a luz que despes mesmo quando é traje que te complementa o ser.

A luz de que não se sente a presença, por vezes, por nunca se ter ausentado.

A luz que só não é, por vezes, porque já é tudo.

Teatro

Um palco
Um velho palco abandonado
Triste desamparado velho palco abandonado
Com um foco de luz que incide numa fenda duma tábua
Que range quando pisada
E que cederá não tarda
Pois está velha gasta desamparada
E podre suja e carunchosa
E feia
Com um foco de luz que incide sadicamente nela
E ela que exibe uma fenda de forma masoquista
E despudorada
Para uma plateia fria vazia sombria
Com cadeiras que faltam
Estofos esventrados
Fantasmas que vagueiam com saudade e lágrima furtiva
Pelos camarotes da aristocracia finada
E velha
Ecos de ovações júbilos e bravos que ressoam
Nas paredes tristes velhas desamparadas
E tinta descascada
Manchas que mancham e nódoas que doem
Rasgões na cortina dependurada qual enforcado
Cortina que se fechou e já não abrirá
Plateia que se despiu e já não se vestirá
Tábua que apodreceu e já não sustentará
Um triste desamparado velho palco abandonado